domingo, 15 de dezembro de 2019

Cuidados pós radioterapia


Esse caso é um exemplo de como os dentistas de diferentes especialidades (e cidades) podem se unir para obter o melhor tratamento para o paciente oncológico. Essa paciente foi muito bem cuidada na radioterapia pela Dra @paularagusa (morri de orgulho!). Como evoluiu pós-radioterapia com uma fístula no palato duro, em decorrência do câncer, a sua dentista Dra. Suzana Gameiro fez uma prótese obturadora de palato para que ela conseguisse se alimentar. A paciente foi encaminhada para que eu realizasse seu acompanhamento pós-radio, por morar em Londrina. Segui com os cuidados e orientações, mas ela ainda tinha queixa de que os alimentos penetravam na fístula durante a alimentação, mesmo com a prótese. Em contato com sua dentista, sugeri a confecção de uma nova prótese, dessa vez com resina soft na região da fístula, para vedar melhor a fístula. A colega conseguiu realizar o aparelhinho após estudarmos muito a melhor maneira de confeccioná-lo, e ficou excelente! Com isso a paciente está ingerindo inclusive líquidos sem problema! Ela relata que não há mais penetração de alimentos e líquidos na fístula, o que além de trazer maior conforto, também vai ajudar na cicatrização. Estou acompanhando a cicatrização da fístula com medições periódicas e vamos introduzir fotobiomodulação e outras medidas para ajudar na cicatrização, tão logo venham os resultados do PET e ressonância magnética, para termos certeza da ausência completa de doença na região. Sabemos que vai demorar para fechar, pois a radioterapia feita na região vai atrasar a cicatrização. Mas até que aconteça, ela estará confortável!
Unidos somos mais fortes! Paula e Suzana, sabemos o quanto estamos felizes por ela, né? ❤❤❤

Alterações sistêmicas: elas podem estar na sua frente!


 Quantas informações obtemos sobre as condições sistêmicas ao examinar um paciente?  Nesse exame, observamos a palidez de mucosas, podendo indicar anemia severa. Notamos petéquias e hematoma, podendo indicar trombocitopenia. Podemos ver lesões de herpes simples, que nos indicam que ele pode estar neutropênico, imunossuprimido. Além disso, observamos também que o palato mole está bem amarelado, assim como sua pele, o que pode nos indicar comprometimento hepático, icterícia.
Claro que notamos o herpes, observamos que há uma prótese traumatizando a mucosa, que há lesões de cárie que precisam ser tratadas. Mas há muitas outras informações que esse exame está nos trazendo, que indicam comprometimento sistêmico severo e que demandam urgência!
Às vezes o paciente oncológico está com sinais de desidratação, icterícia, ascite, hemorragia, anemia - sintomas que nós temos que identificar, para tomar providências.
Esse paciente saiu do meu consultório para o hospital. Os exames confirmaram todas as minhas suspeitas e ele foi tratado com medicação endovenosa, em ambiente hospitalar. Foi hidratado, recebeu medicação antiviral, transfusão sanguínea e todo o tratamento médico necessário. Estava pancitopênico, com comprometimento renal e hepático.
Por isso, olhe bem para o paciente - muitas vezes é o dentista quem vai primeiro notar essas alterações e quem precisa encaminhá-lo ao tratamento médico adequado o quanto antes! 

Mucosite? Não, melanoma!



Terapia fotodinâmica antimicrobiana na MRONJ

Dezembro Laranja: atenção ao câncer de pele!



quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Terminou a radioterapia?


Agora é preciso seguir com o acompanhamento odontológico, para prevenção e manejo das complicações tardias da radioterapia de cabeça e pescoço.
Nessa consulta pós radioterapia, o paciente geralmente ainda sente diversos sintomas, como ardência da mucosa com alimentos cítricos ou outros, a xerostomia ainda é bastante severa (e muitas vezes persistirá dessa maneira), ainda não houve a recuperação do paladar, havendo geralmente hipogeusia. Ele está aprendendo a lidar com a nova situação oral e salivar, tentando se adaptar à diminuição da saliva e se recuperando física e emocionalmente.
Temos que orientar quais alterações são transitórias e quais devem ser monitoradas constantemente, pois são sequelas.
É importante reeducar, conversar novamente sobre os cuidados de higiene oral para evitar as cáries de radiação, falar novamente sobre o risco de osteonecrose, seus sintomas e medidas de prevenção e reforçar a importância do acompanhamento odontológico periódico, trimestral. É preciso monitorar a disfagia e o trismo e fazer medições periódicas da abertura de boca - estar atento aos sinais e sintomas dessas alterações bucais, para agir o quanto antes. O acompanhamento pós radio é extremamente importante e o paciente precisa estar muito convencido disso, para que haja adesão ao tratamento. Quando bem orientado e cuidado, muitas dessas complicações podem ser evitadas! 😉



terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Nem toda lesão oral é mucosite!

Um equívoco muito comum, quando os cirurgiões-dentistas começam a tratar pacientes oncológicos, é achar que toda lesão oral durante o tratamento do câncer é mucosite. A mucosite pode ser provocada por algumas drogas quimioterápicas e terapias alvo, bem como pela radioterapia, dependendo do campo e dose de radiação. Mas nem todos os esquemas de quimioterapia provocam mucosite. E por que isso é tão importante? Porque se não for mucosite, pode ser uma infecção fúngica, bacteriana ou viral, cujo manejo é diferente. As infecções orais durante o tratamento oncológico devem ser rapidamente tratadas, devido à imunossupressão em que os pacientes se encontram, demandando tratamento medicamentoso de uso tópico ou sistêmico, dependendo da indicação.  
Então qual é o primeiro passo ao detectar uma lesão oral em um paciente oncológico? O primeiro passo é sempre o diagnóstico! Para chegar ao diagnóstico é preciso fazer uma anamnese detalhada e um exame físico bem criterioso. Assim, obtendo as informações referentes ao tratamento oncológico que o paciente está recebendo, saberemos determinar qual a doença de base desse paciente, quais drogas fazem parte de seu protocolo de quimioterapia, qual a dose de cada medicação, quando fez o último ciclo quimioterápico, quando surgiram as lesões, qual a dose total e campo de radioterapia (no caso de câncer de cabeça e pescoço), além de todas as medicações em uso e comorbidades do paciente. Com essas informações, juntamente com o aspecto clínico das lesões, criamos critérios de inclusão e exclusão para a mucosite oral e podemos estabelecer um diagnóstico, que determinará a escolha do tratamento. No exame físico, observamos aspectos como a localização e profundidade das lesões, que muito nos auxiliam no diagnóstico da mucosite oral.
Se o paciente chegar com queixa de lesão oral e na anamnese você já observar que seu protocolo oncológico não deveria provocar mucosite, ou que a data de surgimento das lesões é diferente da esperada, já fique atento! Você precisa conhecer os protocolos de quimioterapia, para saber quais são estomatotóxicos, quais provocam mais mucosite, quais podem provocar neutropenia severa e outras alterações bucais. Esteja sempre aberto a outros diagnósticos, porque nem tudo é mucosite!
Mais informações sobre mucosite oral e infecções orais no paciente oncológico no nosso Blog! Até o próximo post sobre odontologia oncológica.😉

Atualização em Estomatologia

É com muita alegria que recebi o convite para ministrar aula no curso de Atualização em Estomatologia, da equipe de Estomatologia e Patologia Oral da UEL, que reune grandes nomes da Estomatologia atual. O curso tem duração de uma semana, com aulas teóricas e práticas e o sucesso foi tão grande que as inscrições já estão encerradas!Uma honra participar junto com essa equipe TOP da UEL, motivo de grande orgulho para Londrina e região! Agradeço aos professores pelo convite!

Sangramento gengival sem causa aparente? Fique atento!


Cáries de radiação: elas ainda existem?


Cáries de radiação: ainda vemos essa situação, infelizmente!
Quem passa por tratamento de radioterapia em doses elevadas na região de cabeça e pescoço pode ter como sequela permanente a hipossalivação e xerostomia. A saliva não volta ao normal após a radioterapia, havendo perda significativa da quantidade e qualidade de saliva, o que provoca uma maior incidência de cáries, se não houver cuidado adequado. Alguns estudos mostram que as cáries de radiação podem ser provocadas tanto pela falta de saliva e higiene oral inadequada quanto por alterações que a radioterapia provoca no esmalte dos dentes, que os tornam mais suscetíveis. Mais a hipossalivação ainda é o principal fator etiológico, pois as alterações salivares aumentam significativamente o risco das cáries. 
É importante orientar o paciente ANTES do início da radioterapia, durante e após, sempre motivando os cuidados orais, para evitar essa situação. As cáries de radiação ou hipossalivação têm progressão rápida, costumam afetar a cervical dos dentes (local de maior acúmulo de biofilme), incisal ou oclusal (locais de maior força mastigatória), podendo levar rapidamente à destruição da coroa dental e até à amputação completa da mesma. Por isso, o melhor é prevenir!
Para prevenir, a educação e constante motivação do paciente quanto aos cuidados orais é o principal. Ele deve aderir ao tratamento e ir ao dentista a cada 3 ou 4 meses, para acompanhamento odontológico. O uso do flúor em alta concentração também é um recurso que sempre utilizamos, seja na forma de bochechos ou em gel.
E agora, se o paciente já chegou com essa situação,  pois não teve orientação antes da radioterapia? Estamos programando oxigenação hiperbárica para realizar as exodontias, pois o risco desse paciente desenvolver OSTEORRADIONECROSE é muito grande.
Mas esse é assunto para outro post!😉

Avaliação odontológica ANTES do tratamento oncológico, sempre!


Na oncologia, é muito importante que o paciente passe por uma avaliação odontológica ANTES de iniciar o tratamento do câncer. Mas às vezes isso não acontece, por um motivo equivocado: ele acha que não tem dentes!
Muitas vezes o paciente traz informações na anamnese que não confirmamos no exame físico, pois são apenas uma percepção leiga que ele tem da sua situação clínica oral. Por isso é muito importante não fazer nenhum diagnóstico ou plano de tratamento antes de concluir o exame completo desse paciente.
Algo muito corriqueiro é o paciente dizer na anamnese que "não tem mais nenhum dente", e no exame físico verificarmos a presença de raízes residuais sob a prótese total, como nesse caso. Importante lembrar que isso também acontece no consultório médico, onde o paciente relata que é edêntulo e por isso acaba não sendo encaminhado para tratamento odontológico antes da quimioterapia ou radioterapia. Isso também é uma conduta equivocada, já que mesmo pacientes edêntulos precisam passar por avaliação odontológica.
Por isso, cuidado! Temos que obter o máximo de informações na anamnese, no exame físico e em exames complementares, como radiografias (ou tomografia) e exames laboratoriais, quando necessário, para elaborar um plano de tratamento individualizado e bem feito. Geralmente um exame complementa o outro, e todos são peças importantes para elaborarmos o diagnóstico e tratamento desse paciente.
Próteses sempre devem ser removidas, antes de toda sessão de atendimento, para que a mucosa seja corretamente examinada. E é importante destacar: paciente edêntulo também precisa passar por avaliação odontológica ANTES, durante e após o tratamento oncológico, já que precisa ser orientado quanto à higiene oral e das próteses, quanto aos cuidados de alimentação, risco de osteonecrose, xerostomia, alterações e lesões de mucosa oral, entre outras informações importantes.
Sabemos que em alguns casos o médico precisa iniciar o tratamento oncológico com uma urgência absoluta que inviabiliza o tratamento odontológico prévio, mas havendo possibilidade, o paciente sempre deve ser avaliado antes do início da quimio ou radioterapia, para pelo menos receber as orientações adequadas.
Até o próximo post de Odonto-oncologia. 😉