domingo, 15 de dezembro de 2019

Cuidados pós radioterapia


Esse caso é um exemplo de como os dentistas de diferentes especialidades (e cidades) podem se unir para obter o melhor tratamento para o paciente oncológico. Essa paciente foi muito bem cuidada na radioterapia pela Dra @paularagusa (morri de orgulho!). Como evoluiu pós-radioterapia com uma fístula no palato duro, em decorrência do câncer, a sua dentista Dra. Suzana Gameiro fez uma prótese obturadora de palato para que ela conseguisse se alimentar. A paciente foi encaminhada para que eu realizasse seu acompanhamento pós-radio, por morar em Londrina. Segui com os cuidados e orientações, mas ela ainda tinha queixa de que os alimentos penetravam na fístula durante a alimentação, mesmo com a prótese. Em contato com sua dentista, sugeri a confecção de uma nova prótese, dessa vez com resina soft na região da fístula, para vedar melhor a fístula. A colega conseguiu realizar o aparelhinho após estudarmos muito a melhor maneira de confeccioná-lo, e ficou excelente! Com isso a paciente está ingerindo inclusive líquidos sem problema! Ela relata que não há mais penetração de alimentos e líquidos na fístula, o que além de trazer maior conforto, também vai ajudar na cicatrização. Estou acompanhando a cicatrização da fístula com medições periódicas e vamos introduzir fotobiomodulação e outras medidas para ajudar na cicatrização, tão logo venham os resultados do PET e ressonância magnética, para termos certeza da ausência completa de doença na região. Sabemos que vai demorar para fechar, pois a radioterapia feita na região vai atrasar a cicatrização. Mas até que aconteça, ela estará confortável!
Unidos somos mais fortes! Paula e Suzana, sabemos o quanto estamos felizes por ela, né? ❤❤❤

Alterações sistêmicas: elas podem estar na sua frente!


 Quantas informações obtemos sobre as condições sistêmicas ao examinar um paciente?  Nesse exame, observamos a palidez de mucosas, podendo indicar anemia severa. Notamos petéquias e hematoma, podendo indicar trombocitopenia. Podemos ver lesões de herpes simples, que nos indicam que ele pode estar neutropênico, imunossuprimido. Além disso, observamos também que o palato mole está bem amarelado, assim como sua pele, o que pode nos indicar comprometimento hepático, icterícia.
Claro que notamos o herpes, observamos que há uma prótese traumatizando a mucosa, que há lesões de cárie que precisam ser tratadas. Mas há muitas outras informações que esse exame está nos trazendo, que indicam comprometimento sistêmico severo e que demandam urgência!
Às vezes o paciente oncológico está com sinais de desidratação, icterícia, ascite, hemorragia, anemia - sintomas que nós temos que identificar, para tomar providências.
Esse paciente saiu do meu consultório para o hospital. Os exames confirmaram todas as minhas suspeitas e ele foi tratado com medicação endovenosa, em ambiente hospitalar. Foi hidratado, recebeu medicação antiviral, transfusão sanguínea e todo o tratamento médico necessário. Estava pancitopênico, com comprometimento renal e hepático.
Por isso, olhe bem para o paciente - muitas vezes é o dentista quem vai primeiro notar essas alterações e quem precisa encaminhá-lo ao tratamento médico adequado o quanto antes! 

Mucosite? Não, melanoma!



Terapia fotodinâmica antimicrobiana na MRONJ

Dezembro Laranja: atenção ao câncer de pele!



quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Terminou a radioterapia?


Agora é preciso seguir com o acompanhamento odontológico, para prevenção e manejo das complicações tardias da radioterapia de cabeça e pescoço.
Nessa consulta pós radioterapia, o paciente geralmente ainda sente diversos sintomas, como ardência da mucosa com alimentos cítricos ou outros, a xerostomia ainda é bastante severa (e muitas vezes persistirá dessa maneira), ainda não houve a recuperação do paladar, havendo geralmente hipogeusia. Ele está aprendendo a lidar com a nova situação oral e salivar, tentando se adaptar à diminuição da saliva e se recuperando física e emocionalmente.
Temos que orientar quais alterações são transitórias e quais devem ser monitoradas constantemente, pois são sequelas.
É importante reeducar, conversar novamente sobre os cuidados de higiene oral para evitar as cáries de radiação, falar novamente sobre o risco de osteonecrose, seus sintomas e medidas de prevenção e reforçar a importância do acompanhamento odontológico periódico, trimestral. É preciso monitorar a disfagia e o trismo e fazer medições periódicas da abertura de boca - estar atento aos sinais e sintomas dessas alterações bucais, para agir o quanto antes. O acompanhamento pós radio é extremamente importante e o paciente precisa estar muito convencido disso, para que haja adesão ao tratamento. Quando bem orientado e cuidado, muitas dessas complicações podem ser evitadas! 😉



terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Nem toda lesão oral é mucosite!

Um equívoco muito comum, quando os cirurgiões-dentistas começam a tratar pacientes oncológicos, é achar que toda lesão oral durante o tratamento do câncer é mucosite. A mucosite pode ser provocada por algumas drogas quimioterápicas e terapias alvo, bem como pela radioterapia, dependendo do campo e dose de radiação. Mas nem todos os esquemas de quimioterapia provocam mucosite. E por que isso é tão importante? Porque se não for mucosite, pode ser uma infecção fúngica, bacteriana ou viral, cujo manejo é diferente. As infecções orais durante o tratamento oncológico devem ser rapidamente tratadas, devido à imunossupressão em que os pacientes se encontram, demandando tratamento medicamentoso de uso tópico ou sistêmico, dependendo da indicação.  
Então qual é o primeiro passo ao detectar uma lesão oral em um paciente oncológico? O primeiro passo é sempre o diagnóstico! Para chegar ao diagnóstico é preciso fazer uma anamnese detalhada e um exame físico bem criterioso. Assim, obtendo as informações referentes ao tratamento oncológico que o paciente está recebendo, saberemos determinar qual a doença de base desse paciente, quais drogas fazem parte de seu protocolo de quimioterapia, qual a dose de cada medicação, quando fez o último ciclo quimioterápico, quando surgiram as lesões, qual a dose total e campo de radioterapia (no caso de câncer de cabeça e pescoço), além de todas as medicações em uso e comorbidades do paciente. Com essas informações, juntamente com o aspecto clínico das lesões, criamos critérios de inclusão e exclusão para a mucosite oral e podemos estabelecer um diagnóstico, que determinará a escolha do tratamento. No exame físico, observamos aspectos como a localização e profundidade das lesões, que muito nos auxiliam no diagnóstico da mucosite oral.
Se o paciente chegar com queixa de lesão oral e na anamnese você já observar que seu protocolo oncológico não deveria provocar mucosite, ou que a data de surgimento das lesões é diferente da esperada, já fique atento! Você precisa conhecer os protocolos de quimioterapia, para saber quais são estomatotóxicos, quais provocam mais mucosite, quais podem provocar neutropenia severa e outras alterações bucais. Esteja sempre aberto a outros diagnósticos, porque nem tudo é mucosite!
Mais informações sobre mucosite oral e infecções orais no paciente oncológico no nosso Blog! Até o próximo post sobre odontologia oncológica.😉

Atualização em Estomatologia

É com muita alegria que recebi o convite para ministrar aula no curso de Atualização em Estomatologia, da equipe de Estomatologia e Patologia Oral da UEL, que reune grandes nomes da Estomatologia atual. O curso tem duração de uma semana, com aulas teóricas e práticas e o sucesso foi tão grande que as inscrições já estão encerradas!Uma honra participar junto com essa equipe TOP da UEL, motivo de grande orgulho para Londrina e região! Agradeço aos professores pelo convite!

Sangramento gengival sem causa aparente? Fique atento!


Cáries de radiação: elas ainda existem?


Cáries de radiação: ainda vemos essa situação, infelizmente!
Quem passa por tratamento de radioterapia em doses elevadas na região de cabeça e pescoço pode ter como sequela permanente a hipossalivação e xerostomia. A saliva não volta ao normal após a radioterapia, havendo perda significativa da quantidade e qualidade de saliva, o que provoca uma maior incidência de cáries, se não houver cuidado adequado. Alguns estudos mostram que as cáries de radiação podem ser provocadas tanto pela falta de saliva e higiene oral inadequada quanto por alterações que a radioterapia provoca no esmalte dos dentes, que os tornam mais suscetíveis. Mais a hipossalivação ainda é o principal fator etiológico, pois as alterações salivares aumentam significativamente o risco das cáries. 
É importante orientar o paciente ANTES do início da radioterapia, durante e após, sempre motivando os cuidados orais, para evitar essa situação. As cáries de radiação ou hipossalivação têm progressão rápida, costumam afetar a cervical dos dentes (local de maior acúmulo de biofilme), incisal ou oclusal (locais de maior força mastigatória), podendo levar rapidamente à destruição da coroa dental e até à amputação completa da mesma. Por isso, o melhor é prevenir!
Para prevenir, a educação e constante motivação do paciente quanto aos cuidados orais é o principal. Ele deve aderir ao tratamento e ir ao dentista a cada 3 ou 4 meses, para acompanhamento odontológico. O uso do flúor em alta concentração também é um recurso que sempre utilizamos, seja na forma de bochechos ou em gel.
E agora, se o paciente já chegou com essa situação,  pois não teve orientação antes da radioterapia? Estamos programando oxigenação hiperbárica para realizar as exodontias, pois o risco desse paciente desenvolver OSTEORRADIONECROSE é muito grande.
Mas esse é assunto para outro post!😉

Avaliação odontológica ANTES do tratamento oncológico, sempre!


Na oncologia, é muito importante que o paciente passe por uma avaliação odontológica ANTES de iniciar o tratamento do câncer. Mas às vezes isso não acontece, por um motivo equivocado: ele acha que não tem dentes!
Muitas vezes o paciente traz informações na anamnese que não confirmamos no exame físico, pois são apenas uma percepção leiga que ele tem da sua situação clínica oral. Por isso é muito importante não fazer nenhum diagnóstico ou plano de tratamento antes de concluir o exame completo desse paciente.
Algo muito corriqueiro é o paciente dizer na anamnese que "não tem mais nenhum dente", e no exame físico verificarmos a presença de raízes residuais sob a prótese total, como nesse caso. Importante lembrar que isso também acontece no consultório médico, onde o paciente relata que é edêntulo e por isso acaba não sendo encaminhado para tratamento odontológico antes da quimioterapia ou radioterapia. Isso também é uma conduta equivocada, já que mesmo pacientes edêntulos precisam passar por avaliação odontológica.
Por isso, cuidado! Temos que obter o máximo de informações na anamnese, no exame físico e em exames complementares, como radiografias (ou tomografia) e exames laboratoriais, quando necessário, para elaborar um plano de tratamento individualizado e bem feito. Geralmente um exame complementa o outro, e todos são peças importantes para elaborarmos o diagnóstico e tratamento desse paciente.
Próteses sempre devem ser removidas, antes de toda sessão de atendimento, para que a mucosa seja corretamente examinada. E é importante destacar: paciente edêntulo também precisa passar por avaliação odontológica ANTES, durante e após o tratamento oncológico, já que precisa ser orientado quanto à higiene oral e das próteses, quanto aos cuidados de alimentação, risco de osteonecrose, xerostomia, alterações e lesões de mucosa oral, entre outras informações importantes.
Sabemos que em alguns casos o médico precisa iniciar o tratamento oncológico com uma urgência absoluta que inviabiliza o tratamento odontológico prévio, mas havendo possibilidade, o paciente sempre deve ser avaliado antes do início da quimio ou radioterapia, para pelo menos receber as orientações adequadas.
Até o próximo post de Odonto-oncologia. 😉

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Odonto-oncologia SEMPRE exige tratamento individualizado!


Existem os guidelines, os livros e artigos para orientar o tratamento, mas muitas vezes nos deparamos com situações em que a decisão não está no livro. Temos sempre que levar em consideração nossa experiência no manejo desses pacientes e as informações da anamnese sobre o tratamento oncológico realizado e fatores individuais do paciente, para essa difícil tomada de decisão. 
Esse paciente reunia duas das maiores preocupações na odonto-oncologia: alto risco de osteonecrose dos maxilares e de infecção. Ele precisou começar a quimioterapia com urgência e o tratamento com uma potente droga antirreabsortiva para metástase óssea. E após ter feito a primeira aplicação ele me procurou pela primeira vez, dizendo que  havia realizado implantes dentários há alguns meses e agora precisava fazer as aberturas dos implantes com seu dentista.
 E agora? Decisão difícil, pois uma cirurgia após o início da quimioterapia e do ácido zoledrônico poderia provocar atraso na cicatrização e também osteonecrose, porém a prótese total provisória que ele estava utilizando também trazia um risco elevado de provocar essa complicação. E quanto mais esperássemos, maior seria a chance de ocorrer osteonecrose, pois maior seria a incorporação óssea do bisfosfonato. Pensamos a longo prazo e resolvemos seguir com as aberturas dos implantes, com antibioticoterapia e todos os cuidados pré, trans e pós-cirúrgicos - uma decisão conjunta entre médico, odontologia e paciente, que foi muito bem orientado quanto aos riscos e todos os cuidados. A cirurgia de abertura foi realizada pelo implantodontista, com sucesso. Porém, após alguns dias, houve o início de uma pequena peri-implantite em torno de 2 implantes, com uma cicatrização mais lenta, devido à quimioterapia e droga antirreabsortiva. Resolvi realizar a Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana (aPDT). Com apenas uma sessão houve cicatrização completa da gengiva. O paciente seguiu o tratamento e já instalou a prótese definitiva! Sabíamos que havia um risco de complicações, devido à quimioterapia e ao uso da medicação antirreabsortiva, mas nesse caso o risco de ficar com uma prótese total e fazer a abertura dos implantes posteriormente trazia um risco ainda maior. Como sempre, cada caso é um caso. 
Mais uma vez, destacamos a importância da individualização do tratamento e das decisões em conjunto com a equipe médica. Até o próximo post!

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Qual o melhor momento para o tratamento odontológico do paciente oncológico?

Essa é uma questão extremamente importante, pois durante o tratamento do câncer o paciente pode ter neutropenia e trombocitopenia severas, seja pela doença ou pela quimioterapia, então não é a qualquer momento que podemos intervir. É sempre necessário conhecer bem a doença de base, o esquema de quimioterapia do paciente, as drogas utilizadas e as suas comorbidades, por isso precisamos estar com o prontuário médico em mãos, com todas essas informações atualizadas (os protocolos podem mudar durante o tratamento). Precisamos conhecer a curva de imunidade esperada, saber se as drogas provocam neutropenia importante e quando é o período de nadir celular do seu protocolo (período de menor imunidade), se é esperado queda de plaquetas, qual o intervalo das medicações e datas dos ciclos. Conhecendo todos esses dados, poderemos saber qual o melhor momento para solicitar um hemograma e planejar o tratamento odontológico com segurança, tomando todos os cuidados necessários para o tratamento, de acordo com cada paciente. Só um hemograma do dia (ou do dia anterior, muitas vezes) vai nos dar a segurança de atendimento, não adianta ver um hemograma que foi colhido há vários dias, pois os parâmetros mudam durante todo o ciclo.
E se não estiver bom, como nesse caso onde o paciente veio para fazer restauração, estava no momento ideal do ciclo de quimioterapia (na véspera de iniciar o ciclo) e apresentava 8,4 de hemoglobina (anemia), 117 de segmentados (neutropenia) e 4 mil plaquetas (trombocitopenia)? Nesse caso não posso fazer tratamento odontológico! Há risco extremo de sangramento e infecção, qualquer intervenção poderia coloca-lo em risco. Devemos orientar o paciente quanto aos cuidados e entrar em contato com o oncologista imediatamente. Por isso, mesmo para uma profilaxia dental ou um procedimento simples, devemos sempre ter o hemograma recente em mãos.
Algumas vezes precisamos realizar fotobiomodulação ou terapia fotodinâmica antimicrobiana, entrar com antibiótico, antiviral ou antifúngico, em caso de infecção, mas isso é assunto para outro post! 😉

domingo, 17 de novembro de 2019

Posso tratar pacientes oncológicos?


Muitos cirurgiões-dentistas me fazem essa pergunta. 
Vou dar aqui minha opinião pessoal a respeito. 
Sim, o dentista pode e deve cuidar do paciente oncológico, temos muito o que fazer para ajudar a prevenir e tratar as alterações bucais que ocorrem nesses pacientes. Eu geralmente respondo com algumas perguntas:
- Você tem afinidade por essa área de atuação?
- Você está capacitado para esse atendimento, com cursos de formação?
- Você está capacitado para tratar as intercorrências potencialmente fatais que podem acontecer nesses pacientes?

- Você acha que tem preparo emocional para esse atendimento?
Assinale todas as alternativas acima e você estará sim apto a esse atendimento! Vamos falar um pouco mais sobre cada um desses aspectos:

·       📌Afinidade é algo natural, não adianta forçar a barra – geralmente durante a graduação nossas afinidades já vão surgindo e vamos nos apaixonando por alguma área – vá por esse caminho, que vai dar certo! Onde tem paixão, tem dedicação, tem estudo, tem comprometimento! E é preciso ter toda essa garra para ter persistência, pois os resultados demoram a vir, é preciso ter paciência para colher os frutos, como em qualquer outra área de atuação. É preciso ter paixão para ter envolvimento com a área, para dedicar noites de sono e de estudo para tentar buscar uma solução para o problema daquele paciente! E isso a gente faz com muito gosto, quando amamos o que fazemos.

·       📌Capacitação você adquire com muito estudo, leitura de artigos científicos e livros, palestras, cursos de atualização, residência, mestrado, doutorado. Aqui entram várias opções. Lembrando que a capacitação também envolve conhecimento do tratamento médico oncológico – conhecimento das medicações e terapias usadas, que mudam o tempo inteiro. E SEMPRE envolve habilitação em laserterapia, pois usamos essa terapia com muita frequência, para tratamento desses pacientes.  
    📖Comece durante a graduação, assistindo a palestras sobre esse tema, em congressos, simpósios, encontros. Procure fazer estágio em algum hospital de referência em oncologia, durante suas férias. Assim você já pode começar a conhecer a área e verificar se é mesmo esse caminho que deseja seguir. 
     📖Ao se formar, existem cursos de capacitação de pequena duração que podem lhe dar uma base para direcionar seu estudo nessa área. Há bons cursos em excelentes hospitais, com um esquema de aulas uma vez por mês ou até EAD, que facilitam muito para quem mora longe desses grandes centros. Há também cursos de média duração que dão uma boa ideia do que você tem que saber para esse atendimento, como cursos de Habilitação em Odontologia Hospitalar (esses abordam outros pacientes sistemicamente comprometidos também, não somente oncologia, o que pode ajudar a ampliar suas oportunidades de atuação, caso deseje) e cursos multidisciplinares de Oncologia, que abordam a equipe multi e o papel de cada um na Oncologia. Você vai perceber que quanto mais você estuda, mais tem que estudar! Quem estuda bastante, vê que o atendimento não é simples, exige muito conhecimento, pois o risco desse paciente ter complicações é grande, e um atendimento errado pode lhe trazer sérias consequências. Por isso é importante se capacitar bem!
     📖Na minha opinião, para quem quer seguir especificamente na área de Oncologia, vale a pena fazer a Residência em Oncologia, pois acho o mais completo dos cursos nessa área. Na Residência em Odontologia Oncológica (com DOIS ANOS DE DURAÇÃO - por isso se chama residência!) você vai aprender sobre o manejo desses pacientes oncológicos e sobre Oncologia (cirurgia, quimioterapia, radioterapia, transplante de células tronco hematopoiéticas, terapias alvo e outras), sobre as complicações orais decorrentes desses tratamentos, sobre o manejo das intercorrências e complicações potencialmente fatais. A residência, na minha opinião, é o que hoje há de mais completo para essa capacitação e o que mais vai lhe dar segurança para a realização desse atendimento. De novo: MINHA OPINIÃO, com base nesses 20 anos de atendimento odontológico ao paciente oncológico. Funciona como uma especialização, onde você terá contato com os pacientes, verá como funciona o atendimento na prática, além de muita teoria.
📖E não vamos esquecer da Habilitação em Laserterapia, que é obrigatório para quem deseja utilizar o laser, uma exigência do Conselho Federal de Odontologia. Sabemos que muitas pessoas compram o laser e começam a fazer, sem habilitação, o que é uma irresponsabilidade. Fiz Mestrado em Lasers em Odontologia no IPEN/USP, em 2003/2004, e sempre reforço a importância de se estudar e capacitar muito nessa área, pois a fotobiomodulação é uma terapia que muito nos ajuda, mas é preciso conhecer os parâmetros para que possa ser usada com segurança e com bons resultados! De novo, sem conhecimento não há resultados positivos. Quando bem indicada e usada dentro dos parâmetros corretos, tanto a fotobiomodulação como a terapia fotodinâmica antimicrobiana são excelentes terapias auxiliares no atendimento ao paciente oncológico! Por isso, habilitação urgente! Esse curso é oferecido em diversas cidades do Brasil.

·      📌 Preparo emocional - muitas pessoas já identificam de cara que não conseguiriam lidar com a parte difícil do atendimento, como o sofrimento dos pacientes e as perdas, em todos os sentidos. Muitos falam que o ideal para fazer esse atendimento é não se envolver emocionalmente, mas eu digo que é justamente com envolvimento que fazemos um trabalho mais humano, porém é preciso saber lidar com tudo isso. Realmente não é fácil, e algumas pessoas só vão saber se conseguem realizar esse atendimento ao fazerem o primeiro contato com esses pacientes, durante os cursos. Mas o que posso dizer é que é uma área apaixonante, onde sentimos que podemos fazer uma diferença na vida desses pacientes, durante uma fase tão difícil de suas vidas, o que é muito gratificante. Choramos junto com eles, seja de tristeza quando algo não vai bem, seja de alegria e emoção quando eles estão muito bem! É sempre uma lição de vida.

💛Bom, essas são algumas dicas, mas siga seu caminho, de acordo com sua vontade e possibilidades. Não se compare a ninguém, cada um tem sua jornada, tem suas questões pessoais, tem seu leão pra enfrentar. Com persistência e dedicação, tudo vai dar certo! E o mais importante: curta a jornada!
  •     Palestras – são muitas, fique atento aos congressos e associações de dentistas da sua região (siga nas mídias sociais, para se atualizar sobre cursos).
  •    Hospitais que oferecem cursos nessa área: Hospital Albert Einstein, Hospital AC Camargo, Hospital Sírio Libanês, USP Bauru (FUNBEO), INCA – RJ, entre outros.
  •    Cursos de Residência em Odontologia Oncológica: Hospital das Clínicas (FMRP – USP), AC Camargo, Hospital de Câncer de Barretos, INCA RJ, Hospital Sírio Libanês, entre outros.

 No setor de ARTIGOS, veja sugestões de bons livros e artigos para começar sua leitura! Até o próximo post!💛

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Mucosite - ainda precisamos falar sobre isso!


Embora hoje já se conheça muito a respeito da fisiopatologia da mucosite provocada pelo tratamento oncológico, bem como sobre mecanismos de prevenção e manejo dessa afecção, essa ainda é a complicação oral mais temida em pacientes que passam por um tratamento de câncer. Isso porque, em alguns casos, a mucosite oral pode ser muito severa, trazendo dor intensa e dificuldade de alimentação, podendo levar à desidratação e desnutrição, trazendo debilidade física e emocional ao paciente e familiares. Quando chega a graus mais avançados, a mucosite pode inviabilizar a alimentação oral, sendo necessário o uso de sonda nasogástrica e muitas vezes hospitalização do paciente, havendo interrupção do tratamento antineoplásico, o que pode ter impacto no controle da doença e na sua sobrevida. Estima-se que pacientes com mucosite oral têm 5 vezes mais chance de desenvolver sepse durante o tratamento oncológico, pois as feridas extensas são porta de entrada para infecções oportunistas, justamente em períodos em que estão imunologicamente bem comprometidos. Há muita literatura sobre prevenção e tratamento das mucosites quimio e radio induzidas, com diversas propostas de manejo. Os guidelines são sempre atualizados, compilando o que há de mais atual e sedimentado na literatura. Os protocolos envolvem fotobiomodulação e outras medicações de uso tópico e às vezes sistêmico, sempre com o intuito de controlar o processo inflamatório, combater as infecções, acelerar a cicatrização tecidual e promover analgesia. A mucosite pode ser provocada por alguns protocolos de quimioterapia, radioterapia de cabeça e pescoço e algumas terapias alvo. Nem todos os medicamentos usados no tratamento do câncer provocam lesões de mucosite oral, por isso é muito importante que o cirurgião-dentista que trate pacientes oncológicos esteja atualizado sobre essas medicações, conhecendo as drogas usadas na quimioterapia, campo e dose radiação, para saber quando deve utilizar meios de prevenção e quando não será necessário. Sabendo que o paciente fará um protocolo estomatotóxico que traga risco de desenvolver mucosite oral ou de orofaringe, é muito importante que o dentista já inicie protocolos de prevenção, para que o paciente tenha mais controle dessa complicação e qualidade de vida. A fotobiomodulação ou laserterapia, quando bem indicada, é um recurso excelente para prevenção e controle da mucosite, junto com outras terapias. Sugiro alguns artigos para leitura sobre o tema e estou à disposição para ajudar, se houver alguma dúvida.
💛Nesses 20 anos de atendimento ao paciente oncológico, já preveni e tratei muita mucosite –  já tive muitas vezes a alegria imensa de ver pacientes se beneficiarem com as terapias e passarem por todo o tratamento sem conhecer essa complicação! 😃😃😃
E infelizmente já vi pacientes irem a óbito em decorrência de complicações de mucosite em grau avançado, o que muito me entristece😭😭😭. 
Por isso, colegas dentistas, vamos cuidar da mucosite! Ela ainda afeta muitos pacientes!
📌 Dica - sugestões de artigos sobre mucosite no setor ARTIGOS, não deixe de ler!

💛No próximo post vou falar sobre COMO SE CAPACITAR😷😷😷 para o atendimento ao paciente oncológico. Todo dentista pode tratar paciente oncológico? Sim, desde que esteja capacitado para tratar as complicações e todas as intercorrências decorrentes dos tratamentos. Aguardem novo post!💖💖💖

domingo, 4 de agosto de 2019

Pacientes sistemicamente comprometidos

Essa semana teremos uma excelente oportunidade de debater sobre os desafios do atendimento odontológico aos pacientes sistemicamente comprometidos. Falaremos sobre Diabetes e Osteonecrose dos maxilares no Fórum da AONP. Imperdível! Esperamos vocês lá!